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17 de Fevereiro de 2023
Considerado pelas autoridades de saúde como o período de maior incidência de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) no ano, o Carnaval se aproxima com um alerta para o aumento das exposições de risco de contaminação por meio das relações sexuais desprotegidas.
Conforme a infectologista Lilian Branco, que atua no Hospital Dia Campo Limpo, gerenciado pelo CEJAM em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, as festas de Carnaval propõem o extravasamento social, associando aglomerações e estímulos que incluem, muitas vezes, o consumo em excesso de bebidas alcoólicas e outras drogas, cujos efeitos levam muitas pessoas a reduzirem as preocupações com a saúde de maneira geral.
“Esse combo faz parte de um cenário típico da nossa cultura, mas dificulta o combate aos números de infecções que continuam em alta no país”, frisa.
De acordo com o mais recente Boletim Epidemiológico, divulgado pelo Ministério da Saúde, foram registrados mais de 15 mil novos casos de HIV/Aids no país somente no primeiro semestre de 2022. No caso da sífilis adquirida, o número foi superior a 79 mil neste mesmo período. Vale destacar, ainda, que, em ambos os casos, o problema tem maior incidência entre os homens.
Além dessas, as infecções como herpes genital, HPV, gonorreia, clamídia, tricomoníase e hepatites virais dos tipos B e C estão entre as mais comuns e podem ser evitadas com métodos preventivos.
A especialista ressalta que as ISTs podem ser causadas por vírus, bactérias, parasitas ou outros microrganismos, tendo como principal meio de transmissão o contato sexual, tanto oral como vaginal ou anal, sem proteção com uma pessoa infectada.
No entanto, conforme aponta um levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2019, 59% dos entrevistados não usam preservativo em suas relações e cerca de 17% utilizam apenas em algumas situações.
“Embora seja um método bastante simples e acessível, muitas pessoas ainda não se conscientizaram sobre sua importância, o que prova que temos que atuar fortemente com campanhas e ações práticas visando alcançar toda a população, aprimorando nossa comunicação em prol da redução desses números”, destaca.
Segundo Dra. Lilian, a falsa ideia de que o tratamento para essas infecções é simples e, por isso, não há maiores riscos em dispensar o uso do preservativo, é um grande problema.
“ISTs podem ser potencialmente perigosas, sobretudo porque algumas podem não apresentar sintomas inicialmente, o que contribui para a demora do diagnóstico. Além disso, algumas dessas infecções podem evoluir tornando-se doenças crônicas, gerando complicações em longo prazo”, alerta.
CAPS AD
Para Maria Carolina de Raphael Nogueira, gerente do (Centro de Atenção Psicossocial para Álcool e outras Drogas) CAPS AD III Jardim ngela, administrado pelo CEJAM em parceria com a Prefeitura de São Paulo, quando o problema está relacionado ao abuso de álcool e outras drogas, os danos podem impactar severamente a população neste período.
A profissional destaca que, após o Carnaval, é observado um aumento na procura por atendimento, bem como a piora no quadro dos pacientes que já estão em acompanhamento pelo CAPS AD. “Para essas pessoas, o Carnaval é uma época de risco, uma vez que se torna muito forte o apelo a festas, bebidas e diversão sem limites”, salienta.
Para combater este cenário, os especialistas do CAPS AD atuam de forma preventiva junto à comunidade para esclarecer sobre os riscos relacionados ao uso intenso de álcool e outras drogas, dando orientações e realizando ações de redução de danos, tanto com seus pacientes como com a população nos entornos.
O CAPS AD é um serviço especializado de saúde mental da rede pública, destinado ao tratamento de quadros graves de uso abusivo de álcool e outras drogas. Atualmente, a cidade de São Paulo conta com 95 CAPS, sendo 31 deles para tratamento do uso abusivo de Álcool e Drogas (AD) e 64 (32 Infantojuvenis e 32 Adultos) para o tratamento de transtornos psiquiátricos em geral.
Maria Carolina explica que, para ser atendido, não é necessário encaminhamento de outro profissional, basta comparecer à unidade mais próxima. A equipe multidisciplinar é formada por psicólogos, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, educadores físicos, farmacêuticos, técnicos em enfermagem, técnicos em farmácia, psiquiatras e clínicos gerais, além dos Agentes Redutores de Danos, que são profissionais treinados para realizar abordagem aos pacientes e população em geral, com foco na redução de riscos e danos como um todo.
Com um projeto alinhado aos preceitos da Luta Antimanicomial, os serviços são prestados ao paciente em liberdade.
“Na unidade Jardim ngela, por exemplo, proporcionamos atividades individuais e grupais terapêuticas de diversas naturezas elaboradas pela equipe multi. Alguns pacientes vêm para participar de ações pontuais, outros passam o dia conosco. Há também aqueles que necessitam de alguns dias de internação, porém, o foco do tratamento é sempre com o paciente inserido no seu meio social”, detalha.
A psicóloga Rosiane Lopes da Silva, que também atua no CAPS AD III, lembra que o Carnaval não deve ser marcado como um evento gerador de problemas à saúde e à segurança da população.
Segundo a especialista, o mecanismo de ação de substâncias, principalmente das bebidas alcoólicas, que atuam no córtex pré-frontal diminuindo o juízo crítico, o nível de atenção, o pragmatismo entre outros efeitos, aumentam os riscos para as ISTs. Nesse sentido, toda ação de prevenção e conscientização é bem-vinda, como, por exemplo, ofertar água potável gratuita nos locais onde há festas de rua, distribuição de preservativos, banners com informações sobre o respeito ao corpo do outro etc.
“Também temos que, cada vez mais, buscar o engajamento da população para que a folia seja um momento de alegria e harmonia. E isso é possível quando mantemos em mente o autocuidado, preservando a nós e aos demais para que possamos curtir muitos e muitos Carnavais sem danos”, finaliza.
Fonte: Comunicação, Marketing e Relacionamento
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