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24 de Abril de 2017

Projeto usa a flauta para recuperar autoestima de deficientes

Essa é a história do Paulo, do Sílvio, da Cida e do Wiliam (com M no final!). É uma história que envolve música, sonhos, aspirações e recomeços. É a história curso de flauta doce e também de quem escuta os sopros de inclusão originados a partir disso. Há nove anos, na Casa da Visão e em parceria com o Rotary Santos Oeste, homens, mulheres e crianças com deficiência visual têm a oportunidade de reescrever suas histórias usando a música como instrumento de transformação. Como nas grandes histórias, um fato divisor de águas foi fundamental para o surgimento do projeto Música Transformando Vidas: um acidente vascular cerebral que fez o consultor em tecnologia Paulo Mauá tirar o pé do acelerador da própria vida e passar a enxergar os detalhes e a delicadeza dos dias. (Eu precisei inverter minha escala de valores e recomeçar. Antes do aneurisma eu já era músico e decidi usar esse dom como terapia própria: eu passei a tocar para não ter sequelas físicas e nem emocionais. A música me dez refletir que já que eu estava vivo eu precisava fazer essa segunda chance valer a pena. O encontro com o Silvio (aluno do projeto) me colocou nos caminhos da educação para transformação e me fez ter vontade de trabalhar com agentes multiplicadores), destaca o regente da orquestra. No grupo difuso que frequenta as aulas todas as terças-feiras pela manhã, qualquer pessoa é bem-vinda. Embora focada e desenvolvida para deficientes visuais, um grupo de crianças da Cruzada das Senhoras Católicas acompanha a aula, com flautas em punho. Professoras de outras entidades também comparecem, buscando traços da metodologia usada que possam ser adaptados para as próprias aulas. (Acho que o processo é muito simples. Qualquer um que bater nessa porta será bem acolhido aqui. Se ele se tornar frequente recebe uma flauta e pode se apresentar conosco nos eventos que fazemos. Não há um critério mínimo de domínio para que qualquer pessoa faça parte. Basta estar conosco, acompanhando o que for possível. Subimos nos palcos convencionais e improvisados com vários níveis e quem não tiver muito domínio com certeza buscará o aprimoramento para a próxima apresentação. Tudo é processo), ressalta Paulo. O grupo faz de 30 a 40 apresentações por ano em Residenciais para Idosos, escolas públicas e demais festividades da cidade. Nas quase 2 horas de apresentação ininterrupta, o repertório passa por Beethoven, Luiz Gonzaga, Raul Seixas e Gilberto Gil. Vivendo na prática os pilares da inclusão, autoestima e cidadania, Paulo se lembra da apresentação mais marcante que coordenou do Música Transformando Vidas. (Sem dúvida foi a que fizemos para a população em situação de rua. Foi uma plateia especial para pessoas especiais em um palco improvisado. Duas classes constantemente excluídas que se uniram, naquele dia e naquele local, pela música. Eu não sei dizer o que senti. Algumas coisas da vida simplesmente não se explicam), conta emocionado o professor. (Dá para explicar sim. Naquele dia todos nós usamos a linguagem do coração), completa sorrindo o aluno Luiz Carlos Santos. Histórias de vidas transformadas pelo poder e leveza da música (We Will Rock You), clássico da banda americana Queen, preenchia os ambientes da Casa da Visão, em Santos. Eternizada no ritmo do rock, na última terça-feira a música foi entoada no ritmo da flauta doce, preenchendo espaços vazios. É ali, no pedacinho já próximo ao Centro da movimentada Avenida Conselheiro Nébias que Cida Alves, de 60 anos, encontrou a força necessária para lidar com a deficiência visual. (Eu tinha baixa visão e em 2013 perdi completamente. Eu ficava triste em casa até ser convidada para fazer parte desse grupo. Eu adoro flauta e estar aqui, tocando e interagindo com outras pessoas, me deixa mais viva), conta. Silvio de Souza, companheiro da empreitada de Paulo, conta que após passar a juventude tocando no Conservatório de Cubatão, se reencontrou com a música após o acidente que o fez perder a visão há 23 anos. (Foi preciso o baque para que eu resgatasse algo que deixei na minha juventude. Hoje sei que a música transforma não apenas a minha vida, mas a de todos: os que tocam e os que escutam), conta. Após perder a visão em uma cirurgia, o ex-motorista Wilian Andrade, de 60 anos, conta que descobriu uma nova forma de enxergar a vida. (A música veio para preencher um espaço e hoje ela significa tudo. Descobri uma nova vida a partir da flauta. Quando for escrever meu nome no jornal coloca assim: Wiliam Andrade, com M de músico no final, pois é isso o que sou hoje. Músico com muito amor), finaliza emocionado o artista.

Fonte: Diário do Litoral

Deficiente Saúdavel Notícias

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